A tragédia do Bar do Antero em Uberaba no ano de 1969


Imagem do bar do Antero. Fonte: Lavoura e Comércio

10 de abril de 1969. 4 da tarde, mais ou menos. Fazia a programação da 7 Colinas. O barulho foi ensurdecedor, como uma bomba de alto efeito explosivo. Um cogumelo de fumaça preta pelo bairro Estados Unidos. Gritei a plenos pulmões para o repórter Paulo Nogueira, na redação. Paulinho, num pé cá outro lá, “voando” pelas escadarias da rádio, instalada na avenida Fidélis Reis, gravador às mãos, subiu, como foguete, a avenida Presidente Vargas, cruzou a praça Comendador Quintino e, em minutos, esta defronte a horrenda tragédia. O vai e vem das pessoas, gritos lancinantes ecoavam na esquina das ruas Martim Francisco e Padre Zeferino.


 Em meio a fumaça preta, poeira por todos os lados, telhas e tijolos amontoados, pedaços de madeira, vidros estilhaçados, gente trombando em gente, pessoas gritando a procura de corpos dilacerados; o desespero tomou conta dos vizinhos e pessoas que passavam pelo local. Na esquina, um buraco enorme, causado pela explosão, uma fumaceira e inócuo de fogo que a todos assustava. Paulo Nogueira, no centro da tragédia, transmitia a noticia.


 Policia e bombeiros, logo chegaram. Uberaba entrou em pânico. Nunca acontecera tragédia de tamanha proporção. O estrondo foi ouvido em quase todos os bairros. O “bar do Antero”, tradição na cidade, ponto preferido de uma maioria boêmia da cidade, fora pelos ares. A explosão foi tão violenta que, além do “Antero”, completamente destruído. Foram também atingidos o “Bazar Dominique”, a “Barbearia Colares”, o armarinho “Amigos da Época” e uma casa comercial de cereais e transportes.


 Nas imediações foram parcialmente atingidos, a “Farmácia Globo”, “Calçados Colombo”, o bazar das”Miudezas”, bazar “São Geraldo” e algumas residências da rua Martim Francisco. Faleceram no local, José Cussi Neto(26). Lauro Lombardi(25), Ivone Alves(28). Gilberto Colares (25), Isaura Soares (25) e os garotos Douglas Cruz(11) e Mário Edson Cury(5). No dia seguinte, faleceu a oitava vítima, Antônio Cury. O “Lavoura e Comércio” relatou: “ indescritível o quadro após a explosão.


 Centenas de pessoas desesperadas à procura de seus entes queridos, rompendo cordões de isolamento, tentando localizar parentes sob os escombros. Gemidos, choro, apelos angustiantes, embaralhadas com a segurança militar”. Ainda do “Lavoura”, edição do dia 12,4.” A explosão, segundo Éden Borges, auxiliar da farmácia do Babá, à época noivo de Ivone Borges, uma das vitimas fatais, teria ocorrido no transporte de uma caixa de pólvora para fabricar bombinhas, pois, um dos transportadores estava fumando”. Outra versão corrente na ocasião é que, nos fundos do bar, havia um depósito de bananas de dinamite…


O certo é que, passados quase meio século da tragédia, apesar de minuciosas investigações policiais e técnicas, não se chegou ao laudo definitivo que motivou a tragédia.


Por Luiz Gonzaga Oliveira - Jornalista



Comentários

rubio1945 disse…
Que bom ter memória
Unknown disse…
É claro que se chegou ao motivo; apenas, não se podia comentar porque era época da Ditadura. Mas todos sabem que o dono do bar era contrário ao regime militar, então...
No livro *Lucilia - Rosa Vermelha" há um capítulo dedicado a esse fato. Com documentos policiais, reportagens de jornais, de pessoas envolvidas e a relação de comunistas com o acontecido.
Junior disse…
Esta tragedia foi onde hoje e uma borracha tia?

José Pires disse…
Eu era um menino época, tinha 9 anos e me lembro vivamente desta tragédia. Morávamos relativamente perto. Naquela tarde pressentimos algo estranho, hoje entendo que se tratava da onda de choque, questionamos sobre o barulho se teria sido um trovão? Logo chegou a notícia que o Bar do Antero tinha explodido. Corremos até lá pra ver, ficamos impressionados com a destruição, nunca tínhamos visto nada igual. Eu conhecia o Sr. Antero o também o neto dele, o Douglas que depois viemos a saber que foi uma das vítimas fatais. Foi muita tristeza.
Teve informação que se tratava de explosão de material usado para fogos de artifício mas também correram boatos que havia questão subversiva, mas nunca nada foi confirmado.
Impressionante que quase 40 anos depois, eu morando em Santo André, novamente uma explosão perto da minha casa, eu estava ainda mais perto do local que ficava bem próximo de uma escola onde eu me encontrava aguardando a saída da minha filha.O barulho
foi muito forte e onda de choque também, pareceu um soco no estomago. Foi um tumulto na região, mas eu e minha filha fomos até no local e vimos que foi uma loja de fogos de artifícios que explodira, da qual fui inúmeras vezes cliente. A destruição também foi impressionante. Morreram duas pessoas no local, sendo uma conhecida pela minha filha, era um homem que era inspetor de alunos da escola de onde ele tinha saído a poucos minutos pra ir em casa almoçar .
Ao contrário do local do Bar do Antero que ficou décadas abandonado, lá em Santo André logo foi construído dois imóveis de moradia e o assunto a respeito foi mais rapidamente esquecido.
Eu tinha 14 anos, estava andando de bicicleta de um amigo, no campinho abaixo da torre de TV no Boa Vista, pertinho da Mogiana... quando repentinamente deu-se um ESTRONDO FORTE, seguido de fumaça preta , indicando o lugar atingido.. foi assustador,,, ficou gravado na memória....lamentávelmente com vítimas fatais....na época surgiram boatos que fora causado por botijões de gás....MUITO TRISTE,,

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