Conheça a trajetória do coronel José Caetano Borges, um dos pioneiros da pecuária do zebu no Brasil


O coronel José Caetano Borges, chamado pelos amigos íntimos de "Zeca", nasceu em Uberaba em 03 de outubro de 1873, era filho do agropecuarista e coronel Antônio Borges de Araújo e de D. Maria Brígida de São José Borges. O pai foi um dos pioneiros na introdução do zebu na região e reconhecido como proprietário do lendário "Touro Lontra", um dos primeiros exemplares puros a adentrar oficialmente no município de Uberaba, em meio à uma recepção calorosa e festiva da população, animada com banda de música e outros atrativos solenes.

Católico fervoroso, José Caetano Borges era um sujeito disciplinado e metódico. Destacou-se no mundo dos negócios, principalmente ao dedicar-se à sua paixão maior - a pecuária. O coronel era lembrado pelo charme cavalheiresco dos princípios e os trajes sempre impecáveis, mesmo quando lidava com a vida no campo o terno era seu parceiro inseparável. Amante das artes e da política, fazia viagens constantes pelo mundo, não se privando de luxo e outros requintes culturais. Vivia em monumental casarão na Rua Tristão de Castro, conhecido posteriormente como Palacete José Caetano, que entre os anos de 2006 a 2012 tornou-se sede oficial da Fundação Cultural de Uberaba.

 Coronel José Caetano Borges com sua esposa Cherubina Machado Borges, um dos pioneiros do Zebu em Uberaba. Acervo: MZ

O coronel José Caetano Borges, chamado pelos amigos íntimos de "Zeca", nasceu em Uberaba em 03 de outubro de 1873, era filho do agropecuarista e coronel Antônio Borges de Araújo e de D. Maria Brígida de São José Borges. O pai foi um dos pioneiros na introdução do zebu na região e reconhecido como proprietário do lendário "Touro Lontra", um dos primeiros exemplares puros a adentrar oficialmente no município de Uberaba, em meio à uma recepção calorosa e festiva da população, animada com banda de música e outros atrativos solenes.

Católico fervoroso, José Caetano Borges era um sujeito disciplinado e metódico. Destacou-se no mundo dos negócios, principalmente ao dedicar-se à sua paixão maior - a pecuária. O coronel era lembrado pelo charme cavalheiresco dos princípios e os trajes sempre impecáveis, mesmo quando lidava com a vida no campo o terno era seu parceiro inseparável. Amante das artes e da política, fazia viagens constantes pelo mundo, não se privando de luxo e outros requintes culturais. Vivia em monumental casarão na Rua Tristão de Castro, conhecido posteriormente como Palacete José Caetano, que entre os anos de 2006 a 2012 tornou-se sede oficial da Fundação Cultural de Uberaba.

O contato da família Borges com o zebu teve início através dos irmãos Zacharias e Antônio Borges de Araújo (o pai), quando se conheceram no ano de 1889 na fazenda de Manoel Ubelhart Lemgruber, em Sapucaia/RJ. Ao observar gados exóticos e "que nunca haviam visto antes", foram informados de que se tratavam de animais da raça zebu, originária da Índia. Pecuaristas que eram, interessaram-se prontamente em comprar o tipo e, ante a recusa do proprietário em vendê-lo, souberam que em uma fazenda próxima, entre os municípios de Leopoldina e Entre Rios, de propriedade do Dr. José Lontra, conhecido nas redondezas como médico particular do Imperador D. Pedro II, existiam animais como esses, sendo muitos deles "puros", inclusive.


Desse modo, com o apoio de Joaquim Veloso de Rezende compraram dois reprodutores que, ao chegar a Uberaba em 15 de novembro de 1889 (data da Proclamação da República), um deles recebeu o nome de Lontra, então sobrenome do médico da Corte. Seguindo a iniciativa de seu pai, José Caetano Borges trabalhou para formar seu plantel de gado indiano, apesar de ter enriquecido como empresário no ramo agroindustrial. Cosmopolita, "Zeca" e sua família mantinham regularmente vínculos culturais com a Europa e, em uma dessas ocasiões, permaneceram no velho continente por oito meses.


Imagem do touro Lontra, adquirido por Zacharias e Antônio Borges de Araújo em 1889. Um dos primeiros zebuínos puros que chegou a Uberaba. Fonte: MZ.

Tornou-se membro da famosa Guarda Nacional, quando, através do decreto assinado pelo Presidente da República Hermes da Fonseca, recebeu o título de coronel comandante da 230º Regimento da Cavalaria da Comarca de Uberaba, juntamente com Joaquim Machado Borges. Como outros pioneiros na criação de zebu no Brasil, o coronel tornou-se rapidamente um dos maiores importadores e criadores de zebu em seu tempo. Homem afeito ao mundo dos negócios, era proprietário de ações nas "Docas de Santos", o principal porto internacional de intercâmbio mercantil do sudeste brasileiro.


José Caetano Borges e sua esposa Cherubina Machado Borges, com os filhos João, Antonio e Silvio na Praça de São Marcos em Veneza. s/d. Fonte: Família Borges.

As primeiras importações efetivas que introduziram levas de zebuínos indianos em Uberaba ainda reportam ao fim do século XIX. Mais precisamente entre os anos de 1904 e 1921, foram importados a totalidade de 5.500 cabeças. Dentre os primeiros importadores, estavam os membros da família Borges.

Ao criar a empresa de importação Borges & Irmãos, liderada por José Caetano Borges, houve a ida a Índia do português radicado em Uberaba, Ângelo Costa, entre os anos de 1905/06. O sucesso da entrada de 49 reprodutores das raças guzerá, gir, killari e nelore foi arrebatador. Tal feito incentivou Ângelo Costa a retornar ao distante continente asiático em 1907 e trazer novos animais que foram vendidos avulsos a muitos criadores da região do Triângulo Mineiro.

Animais selecionados na Índia em 1906 por Ângelo Costa, sob encomenda do criador de Uberaba José Caetano Borges. Fonte: MZ.

Foi em meio a esse contexto, para expor, divulgar e negociar um dos primeiros plantéis de zebu no Brasil, além de outras raças, que o coronel promoveu em parceria com o seu primo Joaquim Machado Borges, nas lendárias terras da fazenda Cassu, a primeira exposição de gado de Uberaba, realizada no ano de 1906. Depois dela, muitas outras viriam a contribuir para a vocação pecuarista da cidade e região durante os primeiros anos do século XX.


Fazenda Cassu, propriedade do coronel José Caetano Borges onde foi realizada a primeira exposição de zebu em Uberaba no ano de 1906. Imagem do início do século XX. Acervo: MZ.

O coronel José Caetano Borges também foi um dos principais responsáveis pela formação da raça indubrasil, então considerada a primeira do tipo puro a surgir no BrasilEle almejava que o nome desse novo zebu fosse definido como "induberaba", causando o descontentamento daqueles que criavam a raça em outras regiões. Por esse motivo, em 1936, a classe ruralista em torno da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (SRTM) experimentou a primeira cisão entre os interesses partidários.

Segundo queriam os divergentes, o nome "indubrasil" seria uma opção mais abrangente. Além de Uberaba e Triângulo Mineiro, o novo gado era criado em outros municípios,  no sul de Minas e no interior paulista, que também reivindicavam a parte que lhes cabiam na divulgação e adaptação da novidade. As divergências quanto a essa questão foram registradas em ata da reunião da Sociedade Herd Book Zebu realizada no dia 04 de agosto de 1929.

Na imagem o coronel José Caetano Borges à esquerda, ladeado Frank Scofield ao centro e Silvio Caetano Borges, filho de José Caetano na Fazenda Cassu. Imagem da década de 1940. Acervo: MZ.

Superado o problema, não é difícil entender a contribuição do coronel José Caetano Borges foi incontestável para a trajetória da introdução e fixação da raça no Brasil. Os negócios envolvendo o crescimento do rebanho bovino nacional e outras atividades agroindustriais, incentivaram o princípio "associativista" aos criadores, tornando-o indispensável para o fortalecimento da pecuária zebuína.

Ele esteve presente nas principais transformações que implicaram a transição da Sociedade do Herd Book Zebu para a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro  (SRTM) em 1934 (a futura Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, ABCZ, de 1967), além de ser considerado protagonista essencial nos momentos fundamentais da história da pecuária zebuína. Sua biografia merece ser aprofundada, dada à amplitude dos registros históricos (documentos, bibliografias, fotografias, entre outros) que o mencionam e que permitem ir muito além do que aqui foi tratado.

Autor: Thiago Riccioppo, Historiador da Superintendência do Arquivo Público de Uberaba, Mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU; Gerente Executivo do Museu do Zebu.



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