Três diferentes datas: Origens da Freguesia de São Sebastião e Santo Antônio de Uberaba (1820), da Vila de Uberaba (1836) e da cidade (1856)

* Por Thiago Riccioppo

A primeira vila fundada no Brasil foi São Vicente, em 22 de janeiro de 1532, nos primeiros tempos da colonização portuguesa, fruto da orientação da formação do malogrado sistema de capitanias hereditárias em poderes descentralizados, que buscavam garantir a posse dessas terras a leste do hemisfério sul-americano, dispostas pelo Tratado de Tordesilhas. Durante séculos, até a proclamação da República, quando eram fundadas vilas e cidades no Brasil, significava que o antigo arraial ou a freguesia adquiriria autonomia político-administrativa e, dessa maneira, assumiria um caráter da administração pública relativamente parecido ao que hoje denominamos de município. As recém-criadas Vilas eram constituídas de Câmara de Vereadores, cobravam impostos, baixavam “posturas”, nome dado às leis municipais, recebiam um “juiz de fora”, cadeia, dentre outras atribuições. Ao se fundar uma vila, os intentos da administração estatal eram estender os tentáculos do poder político-administrativo central ao âmbito regional.


Interior do cemitério  de Uberaba em 1889, atual praça Frei Eugênio. Ponto original de fundação da Freguesia de São Sebastião e Santo Antônio de Uberaba. Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.


Segundo fontes de testemunhos de viajantes do período joanino e inventários “post-mortem”, o pequeno aglomerado urbano que deu origem ao Arraial da Farinha Podre e a outros aglomerados protourbanos de nossa região era composto, geralmente, por pessoas pobres, excluídas da posse da terra, muitas das quais se especializavam em alguns ofícios e serviços como fiandeiras e tecedeiras, comerciantes de molhados, alfaiates, carpinteiros e jornaleiros, ou seja, homens que se empregavam temporariamente em trabalhos na roça, além de prostitutas, escravos e ex-escravos. Esses aglomerados interagiam fortemente nas necessidades dos homens do campo com os aparatos que o Estado poderia oferecer, tais como: o casamento, funerais, batizados, registros, além de significar uma zona comercial. Muitos desses aglomerados deram origens a vilas e cidades, enquanto outros permaneceram como pequenos arraiais e não se desenvolveram ou mesmo desapareceram. 


Foi assim que surgiu a Freguesia de Santo Antônio e São Sebastião de Uberaba, fundada em 02 de março de 1820, e, posteriormente, a Vila de Uberaba, em 22 de fevereiro de 1836, quando esta foi desmembrada da Vila de Araxá, criada em 1831. As relações de poderes da instituída Vila reforçaram o comando das elites políticas oligárquicas e suas respectivas famílias a se assentarem. 


Em 1856, a Vila recebe o título honorífico de Cidade. Uberaba, ao longo do século XIX, tornou-se um significativo núcleo econômico-comercial para os padrões da época, integrando uma ampla área do Brasil Central. A cidade recebeu traçados urbanos maiores, relacionados ao núcleo fundacional (atuais Praça Frei Eugênio e, posteriormente, Praça Rui Barbosa), como praças, ruas e bairros e instituições de maior complexidade, ao se criarem escolas, hospitais, sedes de jornais etc. Forjaram-se novas mentalidades, como a dos imigrantes e dos transmigrados ao povo local, formando, com o tempo, o “jeito de ser” uberabense.


Thiago Riccioppo - Mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU; Historiador da Superintendência do Arquivo Público de Uberaba e Gerente Executivo da Fundação Museu do Zebu Edilson Lamartine Mendes - ABCZ


Assista ao vídeo produzido pela Prefeitura de Uberaba, com  supervisão de pesquisadores da Superintendência do Arquivo Público de Uberaba sobre a formação do Triângulo Mineiro e de Uberaba:




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