Os Tiradentes de Uberaba: familiares do mártir que viveram por aqui
João Eurípedes de Araújo
Luiz
Henrique Cellurale
Luzia de Fátima Rocha
Miguel Jacob Neto
O memorialista e Agente Executivo de Uberaba
Antônio Borges Sampaio, que chegou na cidade em 16 de setembro de 1847, publicou artigo no jornal
Lavoura e Comércio do dia 21 de abril de 1904 onde refez a
trajetória da família de Tiradentes em Uberaba, baseado em informações que lhes
foram passadas por um de seus descendentes, Carolina Tiradentes.
De acordo com ele, o ramo da família
Tiradentes em Uberaba começou com a chegada
de parentes de Joaquim José da Silva Xavier, que se transferiram para Dores
do Indaiá, Uberaba, Sacramento e Goiás, tendo deixado uma infinidade de filhos,
netos, bisnetos e tataranetos. Segundo o trabalho de Sampaio, Joaquim José da
Silva Xavier (Tiradentes) teria conhecido Eugênia com quem teve um filho: João
de Almeida Beltrão. Beltrão casou-se com Maria Francisca da Silva, com quem
teve 8 filhos. Depois da morte de Beltrão, Maria se transferiu para Uberaba
juntamente com os seus filhos.
A afirmação de Sampaio coincide com
a do historiador Márcio Jardim em sua publicação no site do Wikipédia em que
afirma:
Sem registros comprovados por documentação,
Tiradentes teria tido com Eugênia Joaquina da Silva dois filhos, uma Joaquina
que logo morreu e João de Almeida
Beltrão, que teve oito filhos.
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Tiradentes, acessado em 19 de abril de 2017)
As
afirmações de Sampaio e de Jardim conferem com as do historiador Jair de
Almeida Gomes, que por meio de seus estudos sobre a vida de Tiradentes afirma o
seguinte:
Tiradentes nunca se casou. Continuava só, porém
duas outras mulheres haviam passado em sua vida; ambas de nobre condição
social. A primeira, uma mulata, Eugênia Joaquina da Silva, de quem Tiradentes teve
um filho de nome João. A outra uma viúva, Antônia Maria do Espírito Santo,
vivia nos arredores de Vila Rica (atual Ouro Preto), e também lhe deu uma
criança, uma menina de nome Joaquina.(http://www.pael.com.br/tiradentes.html,
acessado em 19 de abril de 2017)
Depois do julgamento e da morte de
Tiradentes, no movimento da Inconfidência Mineira, partes de seu corpo foram expostas
nas principais ruas da cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto) para servir de
exemplo e inibir outros movimentos revolucionários. Em seguida, sua casa foi
demolida e sal grosso foi jogado no quintal, para que nenhuma "erva
daninha ali germinasse".
Depois disso, os familiares de
Tiradentes também deixaram Vila Rica e se transferiram para a região do
Triângulo Mineiro, na Vila dos Quartéis, atual Dores do Indaiá. Segundo
informações de D. Carolina, Tiradentes procurou por todos os meios ocultar da
justiça a vida de seu filho João, temendo perseguição. Por isso, ele confiou a
guarda do menino a Joaquim de Almeida Beltrão. Contudo, devido aos mau tratos
visíveis nos braços e nas pernas de João, sua mãe requisitou a guarda da
criança, mas não pôde denunciar o agressor temendo represálias por ser filho de
Tiradentes. Ela se transferiu para a casa de Eugênia dois anos depois da execução
de Tiradentes.
Eugênia mandou
ensinar seu filho a ler e também o ofício de ourives, sem que alguma coisa
transpirasse a respeito da sua paternidade, devido ao cuidado nisso empregado,
posto que em Vila Rica houvesse espionagem ativa para saber-se o que sobre
Tiradentes se dissesse em família e se denunciado.(SAMPAIO. p. 328)
Segundo alguns estudiosos do
Triângulo Mineiro, essa região servia de refúgio para muitos forasteiros que
fugiam do pagamento de impostos - o quinto- e da derrama. Abrigava também pessoas que cometiam delitos
como homicídio e roubo, além dos que sofriam perseguições políticas.
É
provável que os descendentes de Tiradentes tentavam fugir da perseguição
política imposta pelo governo português, considerando que os motivos que levaram Tiradentes ao enforcamento em 1789 ainda os estavam aterrorizando e que,
provavelmente, teriam vindo para a região do Triângulo Mineiro e Goiás no final
do século XVIII e início do século XIX, num período muito próximo à execução de
Tiradentes e anterior à Independência do Brasil.
Segundo Sampaio, com a morte do filho de
Tiradentes, João, em Dores do Indaiá, já no Triângulo Mineiro, a viúva Maria
Francisca da Silva resolveu se transferir para Uberaba juntamente com os seus
filhos. Assim, de acordo com a genealogia feita por Sampaio, a chegada da
família em Uberaba teria ocorrido da seguinte maneira:
Ressalta-se uma curiosidade na busca
de seus familiares uberabenses. Apesar de muitos descendentes nascidos em
Uberaba manterem o sobrenome Tiradentes, esse nome não passava de um apelido
para Joaquim José da Silva Xavier. Somente na 5º geração de seus descendentes
esse alcunha se transformou em sobrenome, como forma de homenagear o personagem
histórico que se tornou herói, depois de ter sido morto como vilão. O nome
oscilou de acordo com os sabores do sistema político reinante.
Carolina Tiradentes prestou
informações a Sampaio. Ela teve duas filhas: Galvina, casada com Bernardino, e
Carlota, casada com Felicíssimo Vieira da Silva. Até o ano de 1904, de acordo
com Sampaio, pelo menos 15 descendentes desse ramo eram uberabenses. Sampaio e
Carolina eram vizinhos desde o ano de 1848. Por isso, descreveu algumas peculiaridades da neta de Tiradentes:
Quando moça era
de estatura alta, direita, harmonicamente conformada, tez clara e rosada; os
traços de seu rosto comprido denunciavam os do proto-martir avô; que com a
idade, haviam se tornado ainda mais salientes. Ela gozou muita simpatia e
estima de pessoas as mais distintas da nossa sociedade, não constando que
tivesse ou deixasse algum desafeto. Muitas pessoas que vinham a Uberaba não se
retiravam sem visitar D. Carolina. (SAMPAIO. p. 323)
Em Uberaba, Carolina também
recordava os passos de sua mãe e o medo da perseguição que envolvia toda a
família:
Suas lembranças
remontam a sua mãe Eugênia, que parecia limitada a reviver os tristes transe
por que tinha passado Tiradentes. Seus últimos anos passou-os em choro
contínuo, chorava todo o dia por não ver o pai do seu filho, a cuja memória
dedicava amor extremo. Derramava lágrimas quando ouvia falar em Tiradentes.
Tudo concorria para recordar-se dos martírios por que Tiradentes havia passado.
Estado angustioso este em que continuou mesmo depois de ter sido declarada a
Independência, não se podendo capacitar da cessação do perigo para o seu filho
João, antes pensava que o anátema infamante posto na sentença que mandara
executar Tiradentes vigorava contra João Beltrão. Tudo quanto possuíam que
pudesse comprometer o menino João, relativamente a sua paternidade foi
queimado, inclusive os bilhetes de Tiradentes a Eugenia, bem como os escritos
que estavam em poder dela. (SAMPAIO. p.329)
Consultas realizadas:
- SAMPAIO, Borges; Uberaba:
História, Fatos e Homens; Volume 1; Editora da Academia de Letras do
Triângulo Mineiro; 1971; Uberaba
- Jornal Lavoura e
Comércio, 1904 e 1924
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Tiradentes, acessado em 19
de abril de 2017
- http://www.pael.com.br/tiradentes.html, acessado em 19 de abril de 2917
Comentários