Páscoa em Uberaba
Luiz
Cellurale
Miguel
Jacob Neto
Em
todo ano a data do Carnaval é alterada, assim como as datas da Semana Santa, de
Corpus Christi e de outras festividades religiosas. A Páscoa é a festa central
das igrejas, tanto judaicas, quanto cristãs.
Páscoa
tem origem etimológica na palavra hebraica "pasach", que significa passagem, em uma referência ao episódio
bíblico e histórico da libertação dos hebreus, da escravidão no Egito, quando a
opressão em que viviam deu lugar à liberdade. Os cristãos se apropriaram da
festa judaica para a celebração da ressurreição de Cristo, e a representaram
como passagem da morte para a vida eterna. É sempre comemorada pelos judeus na
primeira lua cheia do mês de Nissan (nome dado ao primeiro mês do calendário
judaico religioso – sétimo mês do calendário civil).
O
calendário gregoriano (nosso calendário atual) é baseado no sistema solar. As
Igrejas cristãs adotaram o domingo seguinte ao da Páscoa judaica como o da
celebração da Ressurreição de Jesus. Desta
forma, para nós que vivemos no hemisfério Sul, o domingo de Páscoa é, portanto,
aquele que se segue à primeira lua cheia do outono. O domingo de Carnaval é
sempre o sétimo antes da Páscoa cristã. A quinta-feira de Corpus Christi é
sempre a primeira depois do domingo da Santíssima Trindade, comemorado 57 dias
depois da Páscoa. Assim, o domingo da Páscoa é a data de referência das demais
festas litúrgicas chamadas móveis, pois há as que não se alteram, como o Natal,
comemorado invariavelmente no dia 25 de dezembro.
Em Uberaba, desde o
surgimento da cidade, há 197 anos, se comemora o ritual da Páscoa. Como em
todas as cidades do mundo, aqui também se verifica a diversidade e o
sincretismo de culto religioso, com predominância para o cristianismo. No
entanto, notícias de jornais dão conta da importância das comemorações desta
data, tendo em vista a participação da população no drama religioso da paixão e
morte de Cristo.
Até hoje, todos os dias
da semana que antecediam a Páscoa são celebrados solenemente, com participação
popular em procissões e em práticas rituais em recintos religiosos. Por isso
esse período ficou conhecido como Semana Santa.
O primeiro domingo de
ramos relembra a entrada de Cristo na cidade santa de Jerusalém, quando foi aclamado
pelo povo naquela época. Em Uberaba este ritual se repete anualmente onde os
próprios fiéis carregam os ramos numa procissão que culmina na Igreja.
Na segunda-feira ocorre
a procissão do encontro. Comumente as mulheres carregam pelas ruas da cidade o
andor de Nossa Senhora das Dores e os homens, a imagem de Cristo morto. Em
determinado momento acontece o encontro das duas imagens.
Um dos exemplos mais
significativos da devoção popular no passado ocorreu no ano de 1904, quando a
imagem de Nossa Senhora das Dores foi recebida na Estação da Mogiana, vinda de
Igarapava, e percorreu a rua Barão de Ataliba (atual Artur Machado), seguida
por uma multidão de fiéis para a procissão do encontro, quando as imagens de Nossa Senhora e a de Cristo se cruzaram ao
som do cântico de Verônica[1].
Procissão do Encontro - 1904
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Na quinta-feira
santa há a instituição da Eucaristia. Momento sagrado no qual se procede a
releitura do trecho bíblico no qual Cristo, reunido com seus discípulos,
consciente de que seu futuro estava decretado, garantiu a sua permanência junto
a humanidade sob a forma da partilha do pão e do vinho, que se transformariam no
seu próprio corpo e sangue. Para isso, Jesus tomando o pão disse: " tomai
e comei, isto é o meu corpo que será entregue por vós e tomai e bebei, este é o
cálice de meu sangue, o sangue da nova aliança, que será derramado por vós e
por todos, para remissão dos pecados"!
Os momentos mais acentuados
na Sexta-feira da Paixão, acontecem às 15h, em todas as Igrejas do mundo,
quando os católicos celebram a morte de Cristo. Em canto fúnebre, o sacerdote
mostra à comunidade uma imagem de Cristo morto na cruz enquanto entoa o seguinte cântico:
"eis o lenho da cruz no qual pendeu o Salvador do mundo".
No sábado, a vigília
pascal marca o reencontro com a divindade ressuscitada. A Páscoa é o momento mais
importante de toda a semana e significa a realização plena da existência
humana. Por isso, é uma celebração muito concorrida. Na foto abaixo observa-se
o grande agrupamento de pessoas em frente à Catedral, que se tornou pequena
para o número de participantes, no ano de 1938.
Missa da Páscoa em 1938
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[1]
Verônica é um personagem bíblico que limpou com um lenço a face Cristo enquanto
ele se encaminhava ao Gólgota para ser crucificado. Em seguida, notou que os
contornos de seu rosto ficaram marcados no lenço devido à quantidade de sangue
que escorria de seu rosto. Quando ela o abriu para mostrar à multidão entoou um
canto que é repetido todos os anos durante a procissão do enterro:
O vos omnes qui transitis per viam, attendite, et videte si est dolor
similis sicut dolor meus. Attendite, inversi populi et videte dolorem meum.
Tradução: Oh vós homens que passais pela via, vinde e vede se há dor
semelhante à minha.Atentai povos do mundo e vede a minha dor.
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