A fantástica história das primeiras exportações de Zebu realizadas pelo Brasil ao México em 1923 por criadores do Triângulo Mineiro
Fonte: Revista ABCZ Ed. nº 96 Jan/Fev 2017. |
O primeiro movimento de
exportações de zebu realizado pelo Brasil na história foi justamente para o
México, motivado pela força de criadores de Uberaba e Conquista, municípios do Estado de Minas Gerais, bem como
por criadores do Estado do Rio de Janeiro. Até 1921 o Brasil havia feito inúmeras
importações de Zebu da Índia, contudo neste ano, o governo do país proibiu as
importações de gado devido a alguns fatores, especialmente a Peste Bovina asiática
que assombrava muitos lugares no mundo.
No início da década de
1920, o comércio interno de gado no Brasil sofria a crise do baixo valor de
animais reprodutores e para abate. A Sociedade
do Herd Book Zebu - SHBZ, criada em Uberaba, no ano de 1919, para defesa
dos interesses dos pecuaristas e funcionamento do registro genealógico das
raças, encontrou como uma das saídas para a crise a propaganda do Zebu no
exterior, sobretudo nos EUA, Cuba e México, no
objetivo de abrir novos mercados.
Esta iniciativa foi
conduzida junto ao governo brasileiro, através do Ministério da Agricultura
pelo então deputado Fidélis Reis, parlamentar representante da região do
Triângulo Mineiro na Câmara Federal. O deputado obteve recursos do governo federal
e dos municipais de Uberaba e Conquista para formar uma comissão que iria aos
EUA divulgar os animais das raças indianas de criadores brasileiros e tratar
dos trâmites para a exportação.
A comissão foi composta
por João Henrique Vieira da Silva,
Geraldino Rodrigues da Cunha, José Caetano Borges, Joaquim Machado
Borges, Ronan Marquez, Adelino Borges de Araújo e José de Oliveira Ferreira.
Um dos responsáveis pelo projeto de
exportação foi o zootecnista francês Fernand
Ruffier. Neste caminho, constitui-se em 20 de novembro de 1922, a Sociedade
Pastoril do Triângulo Mineiro, com o propósito de viabilizar os processos de
exportação de gado para mercados estrangeiros.
A sociedade era coordenada pela
empresa Cunha, Ratto, Borges & Cia. Ltda. Fernand Ruffier, como representante
da firma, seguiu para os EUA no final do ano de 1922. Logo em janeiro de 1923
foi solicitado à SHBZ o envio de 100 animais.
Fragmento de documento da Sociedade Pastoril Triângulo Mineiro, representada por Fernand Ruffier para exportar Zebu. Fonte: Museu do Zebu, 1923. |
As exportações de gado Zebu
integraram-se a um pacote de intenções em curso num acordo diplomático
comercial entre o Brasil e o México, que visava vender diversos produtos
brasileiros. Paralelamente, cogitava-se, em face desse projeto de comércio de
bovinos, a realização de uma Exposição Pecuária Internacional no México, da qual
contou antecipadamente com uma verba de 600 contos de réis (moeda brasileira da
época) e a cessão de um navio do Lloyd brasileiro, que iria transportar os
animais.
Os bovinos foram embarcados em maio
de 1923 no Porto de Santos - rumo ao Porto de Veracruz, no México, acompanhados
pelos criadores de gado da região do Triângulo Mineiro: Alceu Miranda, Quirino Pucci, Josias Ferreira de Morais, Limírio Dias
de Almeida, Ilídio Dias de Almeida e outros. Em dezembro do mesmo ano, o
criador Armel Miranda embarcou mais outras 200 cabeças. Nesta viagem, próximo
ao desembarque, o navio que transportava os animais encalhou, permanecendo 12
dias numa difícil situação, até que enfim pudessem descer em solo mexicano.
Desses bovinos, apenas um não
resistiu à viagem (SANTIAGO, 1985, p. 134). Foram exportados também outros
lotes pelos pecuaristas do Rio de Janeiro:
Pedro Marques Nunes e Otacílio Lemgruber. Eram 85 cabeças das raças Nelore
e Guzerá, embarcados em outubro de 1923 no vapor Cabedelo. Da mesma forma que a
anterior, a viagem dos fluminenses também foi tumultuada. O destino final do
gado seria o Porto de Veracruz, mas, o navio tomou a direção de Nova Orleans,
pois iria deixar uma partida de café nos EUA. Essa ocasião gerou delongas e
falta de forragens. Além disto, os movimentos de revolucionários na região,
durante o governo de Álvaro Obregon,
exigiram que os animais fossem desembarcados em Tampico, Estado de Tamaulipas,
no México. (LOPES & REZENDE, 2001, p. 56)
Com o gado Zebu em solo mexicano, o
que se seguiu foi uma difícil absorção dos mesmos pelo mercado,
em virtude de um momento de
instabilidade econômica e aos conflitos político-sociais desencadeados na
região. No livro: Intimidades, conflitos
e reconciliações: México e Brasil, 1822-1993, de Guilhermo Palacios (2008),
o historiador credita o fracasso da transação ao fato de um: [...] “cálculo errado
dos criadores motivou que a oferta superasse a demanda e a descrença no conflito
mexicano, por parte do brasileiro, elevou a intensos atritos, a incipiente
relação comercial entre os países”.
Em janeiro de 1924, quando a rebelião
das forças de Huerta contra a imposição de Plutarco Elías Calles, sucessor de
Obregón, tornava-se incontrolável no Estado de Veracruz, a alfândega do porto
foi ocupada pelos sublevados que exigiram a retirada de todos os produtos
armazenados, com o respectivo pagamento de direito, sob pena de leiloá-los.
(...) “Pouco tempo depois, os mesmos rebeldes se apoderaram de 55 cabeças de
gado zebu que ainda seguia ancorado no porto sem encontrar ofertas”.
(PALACIOS, 2008, p. 208)
Apesar do gado recuperado, o governo
mexicano não pagou o frete das viagens que importadores brasileiros haviam tratado
nas negociações. Isso se deveu, em parte, à imensa crise gerada na região
ocupada pelos rebeldes.
É importante salientar que, de acordo
com os planejamentos iniciais traçados por Fernand Ruffier, a maioria desses
animais seriam levados aos EUA. Entretanto, as exigências sanitárias do governo
americano forçaram o desembarque de todos os lotes no México. Foi em função das
problemáticas vivenciadas no México, que boa parte dos animais das exportações
acabou sendo destinada aos EUA.
Primeiramente, 70 touros puro sangue (Guzerá, Gir e Nelore) atravessaram
a fronteira por via terrestre pela região de Eagle Pass, sendo distribuídos a
criadores do Texas. Em 1925, entraram mais 70 touros e 18 novilhas,
principalmente da raça Guzerá. Destacava-se entre os animais encaminhados aos
EUA, o touro “Aristocrata”, de Orlando Rodrigues da Cunha - Marca OC, como mostra
seu registro no Herd Book Zebu. Aristocrata foi pai do importante raçador “Manso”,
um touro do Rancho Hudgins, de Walter Hudgins, no Texas.
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