Outras igrejas, abandono e urbanização levaram à derrubada da Igreja do Rosário em 1924
Por Luiz Alberto Molinar
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário em Uberaba foi derrubada, em 1924, por não haver manutenção por parte da Cúria Metropolitana. Estava em ruínas. Uma restauração seria dispendiosa. A demolição ocorreu a pedido do então agente executivo (prefeito à época),o progressista Leopoldino de Oliveira (Coligação Uberabense), também deputado federal no período. Nos últimos anos de sua existência, se realizava na igreja somente a comemoração do Dia da Abolição, o 13 de Maio, relatou o memorialista e religioso católico Carlos Pedroso.
Foto do final do século 19, do alto do Morro da
Onça, autoria de José Severino Soares
A “Igreja dos Pretos” localizava-se três quadras à
frente em área afastada do burburinho da vila. Sua construção realizou-se com
mão-de-obra escrava, como era comum em relação aos santuários de devoção de
negros, aberta em 1841. Era no Alto do Rosário, agora bairro Estados Unidos, no
Largo do Rosário, atualmente av. Presidente Vargas, no meio do morro, com sua
frente direcionada para o então final da r. do Commercio.
Santa Rita, São Domingos e Mogiana “ajudaram” a derrubar Rosário
Com o surgimento da Igreja Santa Rita em 1854, a três quarteirões da do
Rosário, e da São Domingos 50 anos depois, a duas quadras, o santuário do povo
negro foi perdendo frequentadores. Por isso, a Cúria deixou de mantê-lo,
provocando sua decadência.
O início da operação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro em
Uberaba a partir de 1889, com a estação instalada no alto da r. do Commercio,
provocou a urbanização no entorno da Igreja do Rosário, que se encontrava em
ruínas. Consequentemente, o então “prefeito” Leopoldino de Oliveira se viu
obrigado a propor a demolição do templo. A via, portanto, passou a ter passeios
largos. Em meados do século 20, uma ilha foi construída com jardim e palmeiras
imperiais. Desde 2006 há no local monumento de reverência a Zumbi dos Palmares,
importante líder negro abolicionista.
Imigrantes sírios e libaneses ajudaram a erguer a Igreja São Benedito
As comunidades síria e libanesa, nos anos 1930 e 1940, concentravam suas
atividades comerciais no bairro Estados Unidos, na r. Padre Zeferino, desde seu
início até a r. Artur Machado. Era conhecida como a “Rua dos Turcos”.
Por utilizarem, praticamente, somente o idioma árabe, esses imigrantes
se fecharam e havia dificuldade em se relacionar com a sociedade. Além disso,
sírios e libaneses eram falados na cidade por moças: elas tinham medo deles.
Diziam que presenteavam suas namoradas e esposas com joias caras, mas que
batiam nelas, revelou o memorialista Pedroso.
Como forma de romper o isolamento, propuseram à Cúria Metropolitana
ajudar a edificar a Igreja São Benedito, outro santo de devoção por povos de
descendência africana. Seria uma forma de compensar a demolição da igreja do
Rosário. A pç. da Bandeira, que depois denominou-se Dr. Jorge Frange, foi o
local escolhido. A inauguração se deu em 1961, 34 anos após a derrubada da do
Rosário. Nova basílica foi implantada no local em 1978, em formato circular, em
substituição à primeira que tinha arquitetura tradicional.
O bairro, que passaria a levar o nome da igreja, já
era reduto das duas nacionalidades e de seus descendentes. Até então a região
era conhecida por Colina da Matriz. No local também estava instalada, na r.
Major Eustáquio, desde 1927, a Sociedade Sírio Libanesa, que passaria, nos anos
de 1990, a denominar-se Clube Sírio-libanês.
*Luiz Alberto Molinar é jornalista e coautor da biografia Lucilia – Rosa
Vermelha.
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