UM DOMINGO EM UBERABA

Jorge Alberto Nabut


Ao lançar a genealogia dos Rodrigues da Cunha, Valias e Venceslau, o dinâmico Antônio Ronaldo Rodrigues da Cunha chamou a atenção pela fase de cronista da esposa Leila Venceslau (1934 - 2013), colaboradora dos jornais O Triângulo, com 39 crônicas, em 1952, e Correio Católico, com 37 crônicas, em 1954. Dali, selecionei a do título acima, que foi publicada em 29 de abril de 1952. Confiram: 

“UM DOMINGO EM UBERABA, cidade festeira, não deixa escapar nenhuma oportunidade em que possa dar largas a seu espírito jovial. O domingo aqui, por si mesmo, é uma festa. O bonito céu uberabense abre o dia, irradiando claridade, brilhando como os olhos das garotas, felizes diante de um programa farto. O UTC monopoliza a manhã. Sento-me à varanda. Uma brisa mansinha faz dançarem as ramagens verdes, ao som da música que irrompe do salão. Lá embaixo a piscina recebe os nadadores que aproveitam a folga dominical. A bolinha na quadra de tênis, pulando de lá e de cá, perde em vivacidade para a criançada que corre pelas avenidas. Os “brotinhos” esportistas, em uma algazarra despreocupada, exibem sua classe e graciosidade no ciclismo. Às 11 horas inicia-se o coquetel dançante. Toaletes claras e frescas, trajes esportivos e música, maestro. Mas aquele parzinho, conversando lá no balanço, nada ouve, nada vê. À 1 hora a orquestra encerra a sessão e, para consolar a turma insatisfeita, convida-a para a brincadeira, logo à noite. A vesperal do Metrópole é ponto certo. O footing da 1 e meia às 3 horas confunde as águas do riacho e o tempo, que vão e não voltam mais e, por isso, não compreendem o vai e vem manhoso pela Avenida. Às 4 horas chega a vez do Jóquei Clube, de ambiente cordial e aristocrático. Amigos conversam, as mesinhas todas tomadas, somente gente moça no salão. A cronista, a um canto, observa os pares, a quantidade de pessoas desconhecidas, os cabelinhos curtos e tratados. Algumas frases chegam-lhe ao ouvido e ela, sozinha, no meio de tanta gente, fica saudosa de uma conversinha amiga, com vontade de ter vontade de rir, como a menina da mesa vizinha. Chega a noite. Duas filas longas diante do Metrópole sugerem ao Hugo Rodrigues da Cunha, gerente da Cia. Cinematográfica S. Luís, a criação de bilheterias extra aos domingos. É de praxe a parada de elegância à noite, faça calor, frio, ou chova canivetes... O UTC encerra o dia com outra hora dançante. Depois de tudo isso, ainda ousam dizer que o domingo é o dia do descanso. Pode ser, mas não em Uberaba.”

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