HÉLVIO FANTATO

Originalidade e Autenticidade


Guido Bilharinho


Hélvio Fantato nasceu em Uberaba em 1920, tendo falecido em 1997.

Iniciou seus estudos na escola infantil ou jardim da infância, como se denominava, dirigida pela célebre professora Edite Novais França, cursando posteriormente a Escola de Comércio José Bonifácio, onde foi aluno dos renomados professores Amadeu Pascoalini, José Maciotti e Raul de Melo Resende, de quem, então, fez inúmeras caricaturas.

Em 1935 iniciou suas atividades comerciais, trabalhando com João Laterza, seu tio e pai do filósofo Moacir Laterza.

No decorrer de toda sua vida exerceu a profissão de comerciante, tendo montado em sociedade com seu primo Mozart Laterza e outros importante loja de material elétrico no quinto quarteirão da rua Artur Machado, na qual sempre atendeu no balcão.

Em 1942 iniciou, nas horas vagas, suas atividades de pintor, que daí em diante exerceu no decorrer de sua existência, legando considerável obra pictórica, posteriormente acrescida com trabalhos de escultura.

Destituído totalmente das excentridades e idiossincrasias de grande número de artistas, que se julgam acima de seus semelhantes, Hélvio Fantato caracterizou-se pela simplicidade de viver e afabilidade no trato pessoal.

A respeito, o arquiteto Demilton Dib, afirmou: “o que mais me fascina e alcança grande importância, além da obra em si, é a pessoa de Hélvio Fantato [...] Sua simplicidade, seu despojamento, o ‘fazer’ sem o menor conhecimento técnico, esse autodidata” (depoimento à Marisa Dexheimer, in “Hélvio Fantato Mostra Sua Obra Recente Amanhã”, Jornal de Uberaba, 25 abril 1990).

Por necessitar de espaço, tanto para exercitar sua arte quanto para acomodar e guardar o crescente número de quadros e esculturas, montou estúdio em imóvel situado na saída de Uberaba, nas proximidades da antiga estação ferroviária de Amoroso Costa, onde, entre outras, recebeu a visita do pintor Israel Pedrosa.

Aí, nesse refúgio artístico, cultivou sua arte pictórica e, à certa altura da vida, expandiu-a consideravelmente com a dedicação à escultura.


Exposições Individuais


Na sua modéstia e nenhuma pretensão de publicidade e de aplausos, contentando-se e atendo-se tão somente às imposições vocacionais e ao prazer da criação artística, Hélvio nunca se propôs a expor seus quadros e, muito menos, a organizar exposições para essa finalidade, aptidão que, de resto, não tinha.

Contudo, conhecedores e admiradores do valor de sua obra se propuseram a esse cometimento, promovendo dela algumas marcantes e significativas exposições.


Jóquei Clube de Uberaba - 1964


Promovida principalmente por Paulo Sousa Lima e José Sexto Batista de Andrade, este então vice-presidente do Clube, grandes animadores das artes em Uberaba.

Nessa mostra, segundo Jorge Alberto Nabut, “vende o primeiro quadro [.... o que] veio modificar um pouco o seu modo de encarar sua obra, mesmo não tendo abandonado o hábito de doá-las” (“Hélvio Fantato: A Arte de Fazer Arte Sem Nunca Ter Estudado Arte”, Jornal da Manhã, 18 abril 1976).

Nessa exposição vende nada menos de 15 (quinze) quadros dos 25 (vinte e cinco) expostos.


Livraria Ponto de Encontro - 1968


Nessa livraria foram expostas 13 (treze) quadros.


Folha de S. Paulo – Novembro 1968


Na galeria desse jornal paulistano realizou-se exposição de seus quadros.


Jóquei Clube de Uberaba – Outubro 1969


Outra exposição de sua obra no Jóquei Clube de Uberaba.


Jóquei Clube de Uberaba – Outubro 1974


Nova exposição de quadros de Hélvio, com grande afluência de público, foi idealizada por Jorge Alberto Nabut, então coordenador de cultura do Clube, e organizada por ele e Demilton Dib, com apoio de Lincoln Borges de Carvalho, Salvador Cicci Neto, Cecílio de Castro Silva e outros.


Jóquei Clube de Uberaba – Junho 1980


Em comemoração aos 80 (oitenta) anos do Clube, foi idealizada e organizada por Jorge Alberto Nabut a primeira retrospectiva das obras de Hélvio, reunindo 90 (noventa) peças entre quadros e esculturas sobre estruturas metálicas concebidas por Demilton Dib e executadas por Vandir Laterza.


Galeria de Arte Reis Júnior / Fiube – Junho 1982


Nova mostra retrospectiva de Fantato, pinturas e esculturas, foi realizada na referida galeria, inaugurada na oportunidade, sob a curadoria do professor e crítico de artes Marco Antônio Escobar.


Fantato Atelier – Abril 1990


Nesse atelier, Fantato expôs na ocasião pinturas e esculturas recentes.


Fundação Cultural de Uberaba – Agosto 1993


Quando funcionando no prédio situado no pátio da igreja São Domingos, a Fundação Cultural promoveu nova exposição de pinturas e esculturas de Fantato.


Exposições Coletivas


Em diversas mostras coletivas realizadas em Uberaba, geralmente promovidas pela Fundação Cultural de Uberaba, também foram expostas pinturas e esculturas de Fantato, salientando-se, todavia, entre elas, por sua realização no exterior, a efetuada na


Galeira Debret – Paris/França – Setembro 1996


Idealizada, promovida e organizada por Jorge Alberto Nabut, foi realizada na mencionada galeria a exposição Triangle des Arts composta de quadros de 10 (dez) pintores uberabenses, entre eles Fantato.


Outras Mostras


Obras de Fantato ainda integraram outras mostras e exposições coletivas, a exemplo das que se seguem.

Galeria Municipal de Arte instituída pela Prefeitura na praça Rui Barbosa em abril de 1971; Exposições Coletivas da Feira de Arte/Participação organizadas, feira e mostras, por Hélio Siqueira em 1981, 82, 83, 84 e 90; 2ª Mostra de Arte Uberabense, promovida por Maison Interiores em abril/maio de 1983; Panorama da Pintura Uberabense na galeria de arte da Fundação Cultural de Uberaba em abril/maio de 1984; 1º Salão de Artes Plásticas Cidade de Uberaba promovido pela Fundação Cultural de Uberaba no pavilhão Henry Ford em abril/maio de 1995; Acervo da Fundação Cultural de Uberaba, mostra realizada na galeria de arte da Oficina Cultural de Uberlândia em fevereiro de 1998; A Pintura Brasileira nas Coleções em Uberaba, módulo I, na galeria de arte da Fundação Cultural de Uberaba em fevereiro/março de 2000; 1º Panorama das Artes Plásticas de Uberaba, como um dos homenageados, na galeria de arte da Fundação Cultural de Uberaba em setembro/outubro de 2001.


Catálogo e Vídeo


Fantato integra o importante catálogo Uberaba Mostra Seus Artistas, às p. 21 e 22, editado em 1996 pela Fundação Cultural de Uberaba.

Em 2010 André Laterza montou vídeo de 15 (quinze) minutos referente à obra de Fantato, num “filme de poucas palavras [....] mas um registro sensível de um artista que merece sempre voltar à tona, pois que foi um divisor de águas nas artes plásticas uberabenses” (Jorge Alberto Nabut, “Adágio da Dor nas Telas de Fantato”, Jornal da Manhã, 16 janeiro 2011).


Literatura


Não se sabe quando Fantato iniciou sua produção literária, mas o fato é que escreveu diversos contos – os dois ou três datados são de 1992 – dos quais pelo menos um, “Dedão”, foi publicado numa das duas ou três únicas edições do Caderno de Cultura editado pelo poeta Tony Gray Cavalheiro no Jornal Jumbinho de 25 de novembro de 2000.


Crítica


No ensejo de cada exposição surgiram análises, comentários e críticas atinentes à obra de Fantato, a exemplo das que se seguem por ordem cronológica das manifestações.

“Suas figuras falam por si mesmas, o impacto visual das formas e das cores é imediato e mesmo os mais desavisados ou preconcebidos sentirão a situação [....] Sua arte é moderna e atual, tudo é criação e intuição [....] No seu primitivismo de expressão tudo é força e realidade, seu autodidatismo dá-lhe originalidade e autenticidade [....] Em 1964 e 1965 Hélvio Fantato atravessa uma fase de aprimoramento técnico quando faz quadros abstratos, experiência nova de cromatismo e de técnica. A espátula é usada em largas e generosas passadas em composições intuitivamente equilibradas e ricas de sugestões do real. Posteriormente volta aos seus temas de sempre, mas agora mais seguro dos meios à sua disposição: as cores e as formas se libertam e adquirem maior expressão e riqueza.”

(PAULO SOUSA LIMA, “A Pintura de Hélvio

Fantato”, Suplemento  Cultural   do   Correio

Católico    nº     12,     07     dezembro     1968;

Convergência             nº             03,          1972)


“Em 1973, Fantato abandonou o figurativo para ingressar numa fase, chamada por nós, de ‘fantástica’. Esta é uma de suas mais vigorosas fases, onde atingiu o momento máximo de sua criação. Especulando por um mundo praticamente abstrato, um colorido fortíssimo, as formas distorcidas de possíveis lugarejos, onde o homem deixou seu vestígio perfeitamente captável.”

(JORGE   ALBERTO   NABUT,     “Artistas

Uberabenses”, Convergência nº 06, 1975)


“Sem ter nunca aprendido com alguém, alguma teoria ou prática de pintura, por isso mesmo podendo ser classificado como primitivista, jamais um primitivo, Hélvio Fantato atravessa uma fase de bons, muito bons e maus momentos. É capaz de fazer uma obra–prima – sua melhor obra em todos os tempos – como é o quadro Retrato nº 1, e um mau abstrato [...] Mas, é a comovente simplicidade dele que passa incólume a todas as suas fases.”

(JORGE ALBERTO NABUT, “Hélvio Fantato: A Arte

de  Fazer  Arte  Sem   Nunca   Ter   Estudado   Arte”,

Jornal        da        Manhã,        18         abril       1976)


“Autodidata, isto é, sem formação artística ou aprendizado regular e sistematizado, num curso ou sob a orientação de um professor, Fantato situa-se entre aqueles artistas amadores, não profissionalizados, por isso mesmo chamados pintores de domingo, animados por natural e irresistível necessidade de expressão [....] Sendo a pintura, para Fantato, apenas um ‘meio’ de expressão, pura exteriorização, nada mais natural do que contar apenas com aqueles meios e recursos que a natureza lhe prodigalizou e, por isso, nas suas obras o que se percebe é a arte, por assim dizer, em seu grau zero, ou seja, a arte isenta de artifícios [....] As pinceladas são livres, espontâneas, indicando que o artista não impõe às obras uma disciplina mental, uma organização pensada. Em suas pinturas não há, a rigor, a beleza harmoniosa das cores nem a regularidade ou correção do desenho. Em suma: as formas plásticas são criadas sem cuidados intelectuais.

(MARCO  ANTÔNIO  ESCOBAR, “Hélvio

Fantato”, catálogo da exposição de 1982)


“Nas mãos firmes de Hélvio Fantato o cimento com vermiculita adquire nobreza, sentimento e leveza, tornando-se escultura/obra de arte de grande força expressiva e caráter universal [....] A pintura de Fantato atravessa várias fases e em cada uma delas sentiremos o artista expressionista, como em A Resoluta e a Indecisa, de 77 [....] Atingirá uma fase concreta, que desencadeia uma série de trabalhos – as fachadas – e se conclui em belos casarios.”

(MARISA DEXHEIMER, “Hélvio Fantato Mostra Sua obra

Recente Amanhã”,   Jornal   de   Uberaba,  25  abril  1990)


“Fantato foi progressivamente substituindo a prisão do tema pela responsabilidade do motivo. Não se tratava de uma temática denúncia dos ofensores: bastava apontar os ofendidos, apropriando-se corajosamente da sua dor naquilo que ela tem de cruenta e miseranda. Essa semântica do compromisso, apresentando-o para vencer a pieguice fácil e guarnecendo de profundidade espiritual sua compassividade de artista, determinaria novos rumos à sua estética. Impondo severidade ao seu traço, equilíbrio nos contrastes cromáticos, gradientes na distribuição das sombras, economia nos apelos figurativos.”

(MOACIR LATERZA, “Resenha da Pintura Uberabense”,

Roteiro      Estético      das      Minas     Enganosas.   Belo

Horizonte,  Memória   Gráfica   edições,   2002,   p.  124)


(do livro Personalidades Uberabenses)

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