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TERRA MADRASTA
Orlando Ferreira, era filho do negociante Bento José Ferreira e nasceu em 1887, em Uberaba. Foi seminarista, recenseador, escritor e crítico ferrenho dos maus políticos, da igreja católica e de algumas famílias tradicionais da cidade. Faleceu 1957, aos setenta anos.
O livro Terra Madrasta (1928?), tece críticas à política mineira, afirmando que ela é a responsável pelo atraso do estado e exemplifica, com dados dos recenseamentos de 1872, no qual a população mineira era maior que a paulista, e de 1920, quando São Paulo já alcançava Minas em número de habitantes.
Critica também o governo político de Uberaba, qualificada como “...uma obra de liliputianos."[1] e afirma que as forças oponentes ao progresso do município são: a administração, a política, o clero, a empresa Força e Luz e algumas famílias tradicionais.
Afirma que, embora houvesse na cidade uma razoável arrecadação – mostrada por meio de quadros estatísticos da receita e da despesa, de 1836 a 1925 – ela não era bem aplicada e as ações dos prefeitos não iam além de tapar buracos com terra, capinar ruas, construir pinguelas, matar cachorros, nomear e demitir funcionários e arrecadar impostos. Questiona porque em um século, das 155 ruas da cidade, apenas 11 foram pessimamente calçadas e 3 praças, das 19 existentes, estão em bom estado. Ironicamente, aponta a falta de seriedade nos critérios para se classificar as cidades mineiras no ranking do desenvolvimento, pois, apesar de todo o retrocesso, Uberaba ainda conseguiu ocupar o terceiro lugar na classificação.
Apresenta como entraves do progresso municipal: uma gestão destrói as realizações da outra; administra-se a esmo, sem uma diretriz segura; emprega-se material barato nas construções; trabalha-se às pressas e falta espírito cívico aos administradores. Afirma ainda que edifício da Câmara é novíssimo e já apresenta “assoalho em falso que estremece e sacode os móveis.”
Descreve positivamente a administração do Dr. Leopoldino de Oliveira, apontando-o como o prefeito que não deixou dívidas para a gestão seguinte, exonerou funcionários inúteis, prestou assistência técnica às escolas, apoiado por Alceu Novaes, e elaborou um novo programa de ensino municipal que previa o aumento no salário dos professores, a realização de concursos e a seleção de pessoas habilitadas para o exercício do magistério.
Confronta por meio de quadros demonstrativos, a taxa de mortalidade de Uberaba com a de outras cidades, no período de 1908 a 1920, e expõe as péssimas condições de higiene da cidade devido à falta de água.
Assegura que havia corrupção, assassinatos, espancamentos, compra de votos, suborno e registros em atas falsas, nos pleitos eleitorais na cidade.
Dedica uma parte a criticar a empresa Força e Luz e a atuação política de seus proprietários e o clero uberabense.
Registra os nomes das ruas do município, em 1923, e relatos sobre as fotografias usadas na edição.
A obra é um rico conjunto de dados relacionados à trajetória dos prefeitos da época vivida por Orlando Ferreira que, além de reunir fotos, documentos de jornais e estatísticas do município, importantes para a visão da cidade como um todo, também desperta no leitor o pensamento crítico.
Marise Soares Diniz
Outras obras do acervo: Forja de Anões (1940) e Pântano Sagrado (1948)
[1] A palavra refere-se à Liliput, ilha onde se passa parte da história da obra Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, escrita no século XVIII. De acordo com alguns estudiosos, os liliputianos representam as pretensões dos poderosos, as intrigas e os bastidores das cortes reais. Por meio dessa história, Swift critica as mesquinharias da política e as sociedades inglesa e francesa da época.
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