DOCES RÉPTEIS
Imagem: http://www.estacoesferoviarias.com.br/
Tanto fez por sua Paineiras, implantando por lá escola e filial dos correios que, em 1924, o empenho foi reconhecido e seu nome carimbado na estação. O povo continuou na luta de cada dia, mas o trecho da linha férrea não mais quis ser. Peirópolis[2], quase foi a pique sem o remelexo do trem, não fosse a notícia de matéria dura e pedras esquisitas.
Em tempos de segunda guerra, operários trabalhavam na região, na expansão da linha de ferro, e encontraram uns estranhos ossos. A notícia chegou aos ouvidos de um farejador paleontológico, o gaúcho Llwellyn Price, que veio ligeiro. Langerton Neves da Cunha, profundo conhecedor de ervas e ungüentos, morador da Estação e amigo de Chico Xavier, tornou-se seu fiel escudeiro. Juntando esses ossos e outras preciosidades, Langerton aprendeu o ofício. Ele cuidava muito bem da Vila Cantinho Espírita – no centro da comunidade – e do seu museu paleontológico. Na verdade, uns guardados de pedras e formas diferentes que a natureza foi colocando em seu caminho e Price não mandou para o Rio de Janeiro.
A dupla descobriu fósseis com mais de 70 milhões de anos. Era Uberaba confortavelmente instalada no mapa da paleontologia brasileira. Hoje, bem assentados no local, o Centro de Pesquisa leva o nome de Price e o Museu dos Dinossauros tem em seu acervo exemplares, inclusive inteiros, de seres carnívoros, herbívoros, tartarugas, crocodilos, peixes, moluscos, crustáceos de água doce, microfósseis de plantas e ovos de dinossauro. A terra que tão bem acolheu Frederico Peiró é reconhecida como o mais importante centro de pesquisa paleontológica da América Latina.
Imagens: http://www.peiropolis.com.br/ e http://www.sescsp.org.br/
Mas, não é só pelos dinos que Peirópolis se enche de sorrisos nos finais de semana. Há belas cachoeiras ao redor da estação e uma gente serena, que gosta de agradar o visitante, com um cafezinho fresco, uma fruta colhida no pé ou uns docinhos cujas receitas devem conter segredos tão antigos quanto os gigantescos répteis, considerando a gostosura e a variedade.
Imagem: http://www.periopolis.com.br/
E, se os dinos nos remetem a um passado bem remoto, que lembra ancestralidade e toda a mística que isso pode sugerir, Peirópolis também se proveu dessa idéia. Desde 1995 – quando foi criada – a Fundação Peirópolis mantém, no bairro, o Museu de Valores Humanos e promove estudos e eventos relacionados à Educação em Valores Humanos, baseados na proposta do indiano Sathya Sai Baba.
A próxima empreitada da Associação dos Amigos do Sítio Paleontológico de Peirópolis é implantar o “Caminho dos Dinossauros”, unindo o Desemboque ao vale dos dinos. A rota prevê, entre outras paragens, Sacramento, Gruta dos Palhares[3] e Chapadão do Bugre.
Cada passo de um desses répteis deve equivaler a uns cinqüenta de um humano, mas penso que eles acompanharão com entusiasmo o frejo divertido do trajeto. Afinal, se Santiago abençoa quem trilha seu caminho, é certo que os dinos zelarão de quem tão bem cuida de seus restos mortais.
imagens: fim de tarde em Peirópolis - foto de Giovana Frange
réplica de um dino, frente ao Centro de Pesquisas: http://www.revelacaoonline.cuniube.br/
Iara Fernandes
Publicado originalmente em www.sertaopaulistano.blogspot.com
[1] Antiga estação Cambará, inaugurada pelo Conde D’Eu, em 1889.
[2] Bairro de Uberaba, cujo acesso se dá pela Br262.
[3] Considerada a maior gruta de arenito da América do Sul.
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